terça-feira, 25 de agosto de 2009

No Brasil, uma ex-ministra desafia os planos de Lula.

Jornal Le Monde,

Annie Gasnier

24mar

Marina Silva poderá disputar a presidência em 2010. Nada parece deter Marina Silva. Nem sua saúde frágil, nem os desafios de uma futura campanha presidencial sob o rótulo de um partido "pequeno". Ao abandonar o Partido dos Trabalhadores (PT), onde ela militou durante 30 anos, a ex-ministra do Meio Ambiente resolveu tentar conquistar a presidência brasileira, a convite do Partido Verde (PV), que quer fazer dela sua candidata nas eleições de 2010.

Sua adesão ao PV será oficializada somente em 30 de agosto, durante convenção do partido, mas a hipótese de sua candidatura já agita o cenário político, onde era iminente um novo confronto eleitoral entre o PT e o PSDB.
Membro-fundadora do Partido dos Trabalhadores no Estado do Acre, Marina Silva resumiu em uma carta por que abandonou "sua casa política": a falta de vontade para defender o meio ambiente.
Os mesmos argumentos a levaram a deixar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em maio de 2008, após cinco anos e meio de participação.
Ela logo descobriu os limites de sua missão, avalizando contra sua vontade os cultivos transgênicos ou canteiros de obras que estripam a floresta amazônica. No entanto ela pôde lutar contra o desmatamento, aumentar os parques protegidos e encorajar a exploração sustentável da vegetação tropical. Iniciativas que devem fazer parte de seu programa eleitoral.
Filha da Amazônia, companheira de luta do sindicalista militante Chico Mendes, assassinado em dezembro de 1988, Marina Silva se dedica com paixão a uma causa que lhe deu visibilidade internacional. Ela recebeu muitos prêmios no exterior por seu trabalho.

    Eleita ao Senado em 1994, ela espera que sua adesão ao Partido Verde faça com que ela seja mais ouvida. Mesmo que os Verdes ainda sejam um partido modesto, pego na coalizão governamental, que só tem a ganhar com a chegada de Marina Silva. De acordo com alguns simpatizantes, como o ministro da Cultura, Juca Ferreira, o PV se distanciou da ecologia e precisa muito de uma "reforma radical". A ex-ministra é esperada com sua equipe para formular "um projeto de desenvolvimento para um Brasil sustentável", no qual o meio ambiente estará no cerne da política governamental.
    Apesar dos 3% de opiniões favoráveis que lhe são atribuídas pela primeira pesquisa de opinião em que ela aparece, Marina Silva já tem o respeito dos brasileiros, que admiram "sua história ao estilo de Lula", ex-metalúrgico e sindicalista que se tornou presidente.
    Nascida em 1958 em um seringal, em uma família de onze filhos, ela foi empregada doméstica antes de ser alfabetizada, na adolescência, e quase entrou para um convento antes de se juntar à causa ecológica e de se tornar evangélica.
    Sua trajetória exemplar de militante ligada aos movimentos sociais poderá atrapalhar Dilma Rousseff, a ministra que o presidente Lula gostaria de ver como sua sucessora, e que atualmente passa por tratamento contra um câncer do sistema linfático.
    No governo, as duas mulheres tinham uma visão oposta do meio ambiente. Responsável pelo programa de desenvolvimento de infraestruturas do país, o PAC, Rousseff se mostrou disposta a sacrificar a natureza em nome do crescimento.
    Debates sobre a ética do PT
    "Marina não atrapalhará Dilma, pois o eleitorado do PT é muito fiel ao partido", garantiu Lula, no fim de semana, durante uma viagem à Amazônia. Mas o desligamento de Marina Silva aparece no final de uma semana difícil para o partido no poder. De olho nas futuras questões eleitorais, o presidente Lula obrigou o PT a defender José Sarney, o presidente do Senado e alto dignitário do partido centrista PMDB. Um voto salvador no Congresso permitiu eludir as questões que há meses acusam as suspeitas práticas políticas da família Sarney. Os debates turbulentos, em torno da ética de um PT que antigamente desprezava o clã Sarney, provocaram rupturas e a saída de um senador, Flávio Arns.
    A imprensa conclui que "o PT está em crise". Mas, sem dúvida, deve-se lembrar que um ano antes de sua brilhante reeleição em outubro de 2006, Lula e seu partido estavam envolvidos com o escândalo do caixa dois do PT, o mensalão, que havia dispersado o grupo de fieis e ministros em torno do presidente brasileiro.
    Tradução: Lana Lim

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