sábado, 4 de julho de 2009

"O indutor da depredação"



Os indutores da depredação




Na História da Humanidade sempre apareceu mesmo que escondido na sua mediocridade de apenas executor – com o rosto encapuzado – a figura do carrasco.
Na Idade Média era dele a tarefa de acender as chamas das fogueiras dos condenados. Séculos adentro, enforcava ou cortava cabeças, sempre obedecendo a ordens de um rei ou governante ávido de poder. Sem nada questionar apenas cumprindo seu papel. O de Carrasco. Um carrasco nunca era conhecido de ninguém, um fantasma infiltrado na sociedade a serviço do poder.
Porém, trazia pânico e medo no imaginário das pessoas. Há vestígios de carrascos até mesmo nos “anos de luz” – Iluminismo – o movimento que atacou sistematicamente tudo aquilo que fosse considerado contrário à busca da felicidade, da justiça e da igualdade. Os “déspotas esclarecidos”, intrigantemente surgem nestes anos de luz e com eles os carrascos de sempre. O Iluminismo(com todo respeito aos seus grandes precursores – Francis Bacon, René Descartes, Issac Newton – e aos filósofos iluministas – Voltaire, Montesquieu, Jean Le Rond D’Alembert, Jacques Rousseau) falha por ter menosprezado o valor das Tradições para os povos da Terra. Talvez por isto, nem estes “anos de luz” com suas idéias libertárias que tanto influenciaram na evolução das sociedades humanas, foram capazes de eliminar a função do Carrasco dentro delas. Nos dias de hoje o paradigma que se apresenta com o advento do capitalismo e dos ciclos econômicos (como cita o Sr. Osmar da Silva Laranjeiras – típico carrasco do mundo globalizado) é o crescimento à custa da depredação do meio ambiente e extinção de comunidades tradicionais, acabando por colocar em risco a manutenção e sustentabilidade da vida no planeta. É claro que os povos e as comunidades reagem. E mais uma vez na história, os detentores do poder, para manter seus interesses megalomaníacos, hoje nos domínios do capital como único meio de desenvolvimento, recorrem mais uma vez à velha profissão do carrasco, agora serviçais dos indutores da depredação - através dos conhecidos índices da economia... mais modernos, os carrascos de nosso tempo se aperfeiçoam, frequentam cursos de graduação e alguns até de mestrado. Mas continuam sem ter o menor conhecimento dos condenados a quem executam. O Sr. Osmar da Silva Laranjeiras (funcionário da Infraero) é encarregado de conduzir as desapropriações de terras para fins de ampliação do aeroporto de Viracopos, que acarretará com o soterramento de um dos últimos fragmentos de cerrado na região de Campinas e uma de suas últimas reservas ambientais, repleta de recursos hídricos e matas ciliares. Ele classifica todo este bioma de “pequenas e inexpressivas manchas verdes”, demonstrando total ignorância sobre o local. Este senhor deveria ter mantido a tradição de seus ancestrais – os carrascos da Idade Média – e continuado como até agora, em silêncio. Não compareceu em nenhuma das audiências públicas (ou como disse Chico Lêmure Telúrico: “se acovardou diante das evidências de sua fala imunda”), com seus argumentos evasivos, mentirosos e eventuais. Usa o termo “indutor do crescimento” para justificar esta obra ambientalmente inaceitável numa cidade, que segundo ele mesmo, já é uma das rendas per capita mais altas do país, não precisando, obviamente, de nenhum mega empreendimento para crescer, indutor sim, mas da depredação ambiental de seus últimos recursos naturais de forma irreversível. Em toda a cidade restaram apenas pequenas manchas verdes da sua vegetação nativa, porém, não inexpressivas porque é tudo o que temos – e uma delas é o Cerrado Viracopos (uma das maiores e mais preservadas destas pequenas manchas verdes) – que não é possível de ser mitigado. O carrasco quando executa uma pena de morte, sabe que o condenado, inocente ou não, jamais poderá retornar à vida. Pense nisto!



Sobre carrascos e torturas, escreveu o escritor uruguaio, Mario Benedetti:
“ Alguém limpa a cela da tortura, lava o sangue, mas não a amargura.”

Amargura...é o que restará às pessoas retiradas de suas casas, de suas vidas simples e tradicionais em nome do capital, indutor da depredação ambiental e humana.

Dorinha Meres
Dona de casa, moradora em Campinas-SP

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